tranças&transas: A PRESSÃO PSICOLÓGICA DE SER TRANSEXUAL

Minha gente, por muito tempo eu vivi na dúvida de ser ou não ser quem eu queria que fosse. Não tinha coragem de me mostrar ao mundo, às pessoas em geral, como um ser feminino. Nascido homem, eu procurava não contrariar meus pais, irmãos… as pessoas que eu tinha como amigas… e que eram todo o meu universo de relacionamentos. Então, como me apresentar a eles como uma mulher?

Não consegui realizar esse meu sonho e passei a vida toda, praticamente, sem alegria e sem amor. Sim, porque meu comportamento não correspondia a de um homem. Eu era uma mulherzinha presa num corpo masculino. Com o passar do tempo e os revezes da vida, que não progredia nunca, procurei me afeminar tomando hormônios femininos e vestindo roupas próprias de mulheres, sem, contudo, me apresentar para as pessoas. Era tudo a escondida. Com esses hábitos, me tornei infértil e impotente, mas não consegui viver minha feminilidade.

O tempo passou, envelheci e acabei deixando de lado essa minha vontade de viver como uma mulher de verdade. Eu estava num círculo vicioso de tristeza e, então, resolvi procurar alguém que pudesse escutar a minha história. Consegui, pelo menos, a paz que eu tanto buscava. Larguei de lado a minha vontade feminina e assumi ser a pessoa para a qual fui gerado. É triste dizer isso, mas, a essa altura da minha vida, era o que tinha de ser feito para que eu conseguisse sobreviver. Sofri tanto que acabei tendo um infarto. Graças a Deus sobrevivi, mas o que eu queria mesmo era ter vivido como uma linda mulher. Abriria mão de ter filhos (como acabou acontecendo, mesmo num corpo masculino), se tivesse conseguido viver como uma mulher.

Hoje vivo como um homem, desafortunadamente. Mas foi através das sessões de psicanálise que compreendi o quanto eu fui burra. Eu não precisaria ter brigado com ninguém, nem me machucado, se eu tivesse tido a coragem de me mostrar sem medo de ser humilhada e maltratada perante quem quer que fosse. Quando a gente tem a certeza do que quer mesmo, tudo fica em paz. Portanto, minhas amigas, o que salva a gente dos males é a conversa. Converse com colegas, com a família, com suas paqueras, com psicólogos… Vão falando de si o tempo todo até que as dúvidas se dissipem de suas cabecinhas. Vocês vão passar a entender, com clareza, a respeito de si mesmas. E, aí, vão conseguir realmente deixar a vida de menino para trás e viver plenamente a menina que existe em todos nós. Porque nós temos os dois sexos dentro da gente. E, agora, com o avanço da medicina e da cultura em geral, podemos escolher de que modo queremos nos portar, com quem queremos parecer, que roupa queremos vestir… a que sexo queremos pertencer…

Salve as Mulheres, todas as Mulheres!!

As Mulheres cisgêneras e as Mulheres trangêneras!!

Salve a nós!! E salve a mim, que sou Mulher na alma!